Entre jornais e notícias sobre os bombardeios de carros e homem-bombas nas cidades da região, eu me perguntava pra que tanta violência e não entendia o real motivo para se matar tanta gente. Na verdade, eu não sabia ainda o que eram Árabes e Judeus, mas apenas, assassinos e vítimas.
Foi nesse ano, que aprendi que os Judeus, povo com uma mesma cultura religiosa mas sem nação, depois de sofrerem com as perseguições antissemitas e o horroroso Holocausto, encontraram na Palestina a terra tão buscada para reunir todos aqueles que seguiam o judaísmo e sofreram tanto com o nazismo. A região foi escolhida, porque muito tempo atrás foi lá que nasceram os Hebreus, povo que deu origem aos judeus, e também sofreram diversas perseguições de romanos e cristãos, que os obrigaram a deixar seu território e acabaram por se espalhar pela Europa, garantido sua sobrevivência. Era a volta dos judeus à terra dos seus ancestrais, era a volta às suas terras.
Escolhida o local, milhares de judeus imigraram para lá e aos poucos tomaram conta. Apoiados pelo Sionismo, movimento político e filosófico que defende a criação de um estado judaico na região, criaram Israel. Contra esse avanço, os árabes, que viviam antes da criação do estado, revoltados com a divisão de suas terras para outro povo de religião diferente, criaram organizações terroristas e brutalmente demonstraram sua insatisfação com os pobres judeus que apenas queriam uma nação.
Mas foi também nesse ano, que assisti o documentário "Ocupação 101" e pude ver pelas imagens chocantes e fortes a real situação da palestina. Diferente dos jornais ocidentais, o filme mostrou a vida dos árabes, que foram expulsos de suas casas para dar espaço aos judeus, e obrigados a viver precariamente em assentamentos, que mais tarde também seriam destruídos sem piedade para construção de cidades judias. Ver as cenas de mortes, de tristeza e de terror na cara das crianças palestinas me fez perceber o quanto errada era minha noção sobre o conflito: eram os palestinos, oprimidos pelos ocidentais, que estavam sofrendo com o sionismo.
Há uma semana, comecei a ler o livro "A cicatriz de David", escrito por Susan Abulhawa, com personagens fictícios mas baseado em fatos reais. Que conta a história de Amal, uma menina árabe que desde pequena sofreu pela ação dos judeus sionistas, que impediram seus avós de voltarem para suas casas, obrigando-os a morar em um acampamento precário, que vez ou outra era bombardeado. Seus amigos morreram, os homens da vila foram raptados e torturados, e com apenas 6 anos teve que conviver com o terror e a morte causado pelo exército ocidental. Seus avós foram mortos, sua mãe ficou louca, e seu pai e seu irmão seguiram o caminho do terrorismo, forma encontrada para vingar as mortes de todos os familiares e amigos que os judeus causaram.
O que realmente acontece na Palestina, é um conflito abafado pela mídia americana, que reforça a ideia de violência que gera violência. Os judeus, tão perseguidos na segunda guerra, descontaram nos árabes, que se uniram em grupos terroristas para matar tanto quanto os sionistas. É um ciclo de vingança, onde todos têm razão e ao mesmo tempo não tem. Muitas Amals existem na palestina, vivendo o terror de nascer e viver na região, que apenas querem paz e as suas terras de volta.
Acabei de ler o livro e realmente a frase que está na capa se faz muito verdadeira. "De tempos em tempos uma obra literária transforma o modo como as pessoas pensam". Um dos relatos mais desconcertantes e dramáticos que li.
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